Sentir é o Mais Complicado

 

Desculpem a pausa. Parámos para trabalhar (digamos assim), para voltar a ver A Arca Russa, de Alexander Sokurov, e para ver se o Hotel Netto, na Vila de Sintra, ainda não caiu. O livrinho castanho, que a Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema editou, dedicado a Sokurov, vai bem no bolso para todo o lado. “O problema é sentir. Sentir é o mais complicado”.

 

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Como reage à exibição dos seus filmes no Ocidente?

No início sentia imenso apreço por tudo e todos: espectadores, directores de festivais, funcionários. Depois comecei a arrepender-me, porque às vezes, no Ocidente, vejo reacções muito estranhas. Por exemplo, pessoas a rir. Claro que percebo que os ocidentais são muito diferentes e muito sós, ao mesmo tempo. Muito mais sós do que na Rússia. Diria mesmo espiritualmente mais doentes, com valores morais obviamente muito diferentes dos da Rússia. Por isso me sinto ainda mais agradecido a alguém que veja os meus filmes, porque presencia então um mundo tão diferente e tenta percebê-lo e aceitá-lo. Mesmo assim, no Ocidente, vive-se uma vida que eu nunca compreenderei.

(Entrevista a Paul Schrader, no livro castanho)

 

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O tempo nunca pára. A época de Pedro o Grande ainda não parou. Podemos sempre imaginar que estamos nesse tempo, porque o ramo desse tempo ainda está a crescer. O mundo, na minha imaginação, é como uma árvore. Somos todos células nessa árvore, e vamos em movimento por ela. Nós russos estamos muito mais perto do nosso passado do que os ingleses estão dos tempos vitorianos. O nosso passado ainda não se tornou passado – o maior problema deste país é que não sabemos quando se tornará passado.

(Ao Guardian Unlimited, a propósito d’A Arca Russa)